quarta-feira, 1 de junho de 2011

QUEM MANDOU SER PROFESSOR?

QUEM MANDOU SER PROFESSOR? Prof. Walter Calheiros
Governador Téo dá gargalhadas ao comentar aumento de 7%...

Quem mandou ser professor? Porque não nos ensinaram a sermos “diferenciados” e escolher melhor uma profissão para um país e um estado, historicamente corruptos, chamados de Brasil e Alagoas. Na nossa adolescência, nossos pais e os testes vocacionais deveriam ter sido mais objetivos, buscando uma profissão mais “promissora” para esse país e esse estado real, com uma verdade visível de 3º Mundo. Com certeza a opção profissional cairia na alternativa de “Vereador”, “Deputado”, “Senador”, “Assessor de Secretario”, “Secretário de Estado” ou “Governador”. E a justificativa seria muito plausível: Essas “profissões” não necessitam de muito estudo, porém tem poder e autonomia para aumentar seus “holerites” em 100% ou mais, em qualquer tempo, tudo isso sem passar pelo crivo dos concursos, vestibulares e estudos posteriores de pós-graduação. Agora, nós, míseros educadores cientistas, concursados, após passar mais de quatro anos sentados nos bancos das Universidades, buscando a graduação (muitos pagando mensalidades caras em faculdades), mais alguns anos com especialização, mestrado e doutorado, somos premiados com míseros 7% de aumento anual, dividido em (pasmem) duas parcelas. Por isso afirmo que a culpa é inteiramente nossa de ter escolhido ser professor. Ser professor em um Brasil e Alagoas “futurista”, “evoluído”, “desenvolvido”, “alfabetizado” de hoje já não é mais necessário. Alagoas não precisa de educação, nem ela deve ser prioridade, pois estamos “avançados” a esse respeito. Sendo assim, devíamos ter escolhido a carreira de político eleito, secretário ou governador. Portanto, quem mandou ser professor?

Dias atrás, me senti o profissional/educador mais ridículo do mundo, ao ver a postura do nosso governador (com perfil de grande estadista histórico), proporcionando sorrisos (gargalhadas) irônicos ao ser entrevistado pela mídia alagoana, comentando sobre o ultimato aos funcionários públicos. Fui absorvido por uma tristeza profunda, beirando a depressão/revolta, sentindo-me idiota, ao ser menosprezado de forma tão vil, publicamente. E voltei a me perguntar: Quem mandou ser professor? Lembrei de um questionamento/afirmação de meu filho ao indagar o porquê de não ter aceitado convites para ser assessor de um parlamentar (uma proposta indecente) e assessor de um secretário de estado: papai, todo mundo faz, porque você é diferente? Percebi que meu filho, na sua “imaturidade/inocência” da pós-adolescência tinha sido contaminado pelas inúmeras notícias de enriquecimentos ilícitos de assessores e membros dos poderes. Voltei ao passado e percebi que não estava mais com ascendência na educação dos meus filhos. A ascendência (espelho) estava nas informações da mídia, em algumas pessoas de seu convívio que enriquecem ilicitamente do dia para a noite, de forma muito fácil, sem trabalhar, sem estudar, sem nenhum esforço mental. Fui acometido de uma imensa tristeza, uma imensa decepção com o mundo ao meu redor. Fiquei extremamente decepcionado com a forma com que nossos políticos, eleitos com nossos votos, estavam nos tratando. E a pergunta teimava em não sair da minha mente: Quem mandou ser professor?

E voltei a me perguntar: O que estou fazendo aqui neste mundo vil, comandado por políticos antidemocráticos? O que estou fazendo, ainda lutando por um Alagoas corrupto e desrespeitoso com seus funcionários, seus educadores? Será que os políticos e gestores do parlamento e do executivo têm necessidades básicas maiores que a nossa? Será que as necessidades de “encher a barriga”, de adquirir o pão para a mesa de suas casas é diferente da nossa? Pensei em me isolar, virar eremita, ermitão. Jogar tudo o que me permite acessar as informações no lixo, e curtir a natureza. A natureza não trai... A natureza não agride... A natureza não ironiza... A natureza não brinca com as dificuldades do povo... A natureza abriga e alimenta.

Cai na real, busquei a racionalidade no fundo da consciência, ainda dolorida e disse: Levante a cabeça. Deixa de ser idiota... Isso sempre aconteceu. O Brasil e Alagoas vão ser difíceis de serem mudados. Joguei os pensamentos ruins fora e retornei a realidade. Iniciei meu dia me atualizando. Verifiquei meus e-mails, respondi alguns, e fui à busca de notícias: “O Globo”: “Ministro de Estado acusado de enriquecimento ilícito, com aumento de 1000% de seu patrimônio; “Jornal do Brasil”: “Deputado Jair Bolsonaro diz que PSOL é partido de viados”; “Folha de São Paulo”: “Senado estuda aumentar a idade para a aposentadoria, podendo chegar a 85 anos”; “Gazeta Web”: “Governador Téo dá gargalhadas ao comentar aumento de 7% para o funcionalismo público”. Não agüentei e “eremitizei” de novo, retornando ao meu estado anterior de torpor, misturado com uma revolta interior, ao ver que não adiantava lutar, pois o poder das autoridades era mais forte. Foi aí que, na minha loucura, me perguntei: Porque não ser um terrorista muçulmano? Porque não ter a coragem de um psicopata?

Portanto, quem mandou ser professor e ficar submisso a um sistema político, com gestores “ditos democráticos”, que se auto-regulamentam, inclusive criando leis próprias para aumentar, diferenciadamente, seus salários em mais de 100%, quando no mesmo período, reajustou os salários dos funcionários públicos (dentre eles os professores) em apenas (digo apenas) 7%, divididos em duas parcelas? Realmente somos seres “diferenciados”, lembrando o movimento para não construir a estação de metrô em Higienópolis. Portanto, temos que ser conscientes e viver na miséria, com piso de R$ 950,00, e aumento de 7%, e servir a minoria dominante, com seus holerites 10, 20, 30 vezes maiores, recebendo 100% de aumento do mesmo sistema. Eles não querem que nós, “diferenciados”, cheguemos próximos deles.

Foi aí que imperou a racionalidade orgânica e lembrei a minha missão: Educar visando à transformação social. A transformação dessa realidade cruel. Portanto, não posso ser ermitão, me isolar e deixar de me envolver com a formação educativa do meu povo, do meu estado. Mesmo que não veja progresso, a luta não pode esmorecer, tem que ser contínua, pois acontecendo o contrário, a defesa vai ficar desestruturada, e os adversários, corruptos, terão mais espaços para progredir, ficando livres para mais desvios, mais massacres, mais enriquecimentos ilícitos com o dinheiro e o sangue do povo alagoano. Para tanto, consegui me equilibrar ao reconhecer que tenho que me envolver e aprofundar mais minha missão de educador e não ser omisso com os desmandos existentes em nosso estado, mesmo sem a devida valorização dos sistemas que deveriam se voltar para os mais necessitados e serem mais honestos e responsáveis com os princípios da democracia.

· Professor Universitário e da Educação Básica, Educador Físico; Pedagogo, Mestre em Educação e Especialista em Gestão Escolar. Professor da Faculdade de Alagoas e do Instituto Federal de Educação.




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Walter Calheiros
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